O número de alunos com dificuldades em pagar as propinas está a aumentar no ensino superior. Para já, ainda não há "situações dramáticas", mas no próximo ano as instituições, sobretudo as privadas, podem ressentir-se, diz João Redondo, presidente da Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (APESP). Ao Estado é pedido que apoie os estudantes através do fundo de apoio social. De preferência ainda este ano, solicita Salvato Trigo, reitor da Universidade Fernando Pessoa, do Porto.
Também nas universidades e politécnicos públicos o problema se faz sentir e traduz-se em atrasos no pagamento das propinas, que rondam os 900 euros anuais, um valor mais acessível do que a média das privadas: entre dois e seis mil euros anuais.
A maioria das instituições privadas confessa que os atrasos nos pagamentos não são novidade. "Todos os anos temos atrasos", diz Diamantino Durão, reitor da Universidade Lusíada. "Em todas as épocas há atrasos, mas agora o pico é superior", avalia Reginaldo de Almeida, director da administração escolar da Universidade Autónoma de Lisboa. "No final de Dezembro, houve algum atraso, mas todos pagaram", revela Ramôa Ribeiro, reitor da Universidade Técnica de Lisboa.
As instituições estão alerta. No início de Janeiro, o Instituto Superior de Educação e Ciência (ISEC), em Lisboa, criou um gabinete de acompanhamento dos alunos para avaliar as situações "mais difíceis". Em 1300 estudantes, já foram atendidos entre 20 e 30 casos, informa Conceição Picoito, vice-presidente do ISEC. Os alunos não são convidados a sair, mas são-
-lhes apresentadas diversas soluções para prosseguir os estudos.
No Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA), em Lisboa, cerca de 15 por cento dos 2400 alunos pediram para pagar 12, em vez de dez mensalidades, distribuindo por mais dois meses a despesa com a educação. Há um ano eram apenas cinco por cento os inscritos nesta modalidade, explica o administrador João Atanásio.
"É claro que as dificuldades económicas estão a atingir as famílias e sentimos dentro da instituição o peso das mesmas. Os alunos têm dificuldades em pagar dentro do prazo", informa Vítor Santos, presidente do Instituto Superior Politécnico do Porto, onde estudam 16 mil alunos. O presidente avança que este é um problema que se sente sobretudo nas instituições da Região Norte, mais afectada pelo desemprego.
Também na Universidade do Porto, que recebe 28.722 alunos, a maior do país, a previsão é que no final de Março, data para pagar a segunda tranche das propinas, se vai sentir um aumento do número de estudantes que não vão pagar. A Universidade de Coimbra, "para já", ainda não sentiu os efeitos da crise, revela Pedro Santos, assessor de imprensa da instituição.
Em Lisboa, a Universidade Lusófona também revela que a crise "se tem sentido pouco", mas que vai começar a ter os seus efeitos, já que "está a chegar às pequenas e médias empresas, onde a maioria dos pais dos alunos trabalham", explica Manuel Damásio, administrador da Lusófona. "Se continuar, vamos sentir no próximo ano", acrescenta. É esta a percepção da APESP, preocupada sobretudo com as instituições privadas mais pequenas.
"O apoio social do Estado é largamente superior no ensino público do que no privado", acusa João Redondo, presidente da APESP. "O Estado, mesmo que não intervenha a favor das instituições, deve alargar o fundo de apoio social para que mais alunos beneficiem", acrescenta.
Vítor Santos, do politécnico do Porto, equipara as bolsas de estudo ao subsídio de desemprego. "O Estado não vai dizer que não vai atribuir o subsídio de desemprego. Portanto, também não pode dizer que não vai apoiar os estudantes carenciados", defende. A abertura de um período suplementar para candidaturas a bolsas de estudo é o que Salvato Trigo, da Fernando Pessoa, propõe ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A tutela tem conhecimento da situação, acredita Vítor Santos. "Mas não tenho a certeza que esteja à procura de soluções para uma situação que se está a avolumar", observa.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1365368
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