Há várias décadas que o discurso é sempre o mesmo, a situação económica é difícil e o povo tem de apertar o cinto. O sistema capitalista há muito que está em crise e cada ‘novo’ modelo que os governantes americanos e europeus adoptam para ‘sair da crise’ mais não faz do que aprofundá-la. E têm sido sempre as nossas famílias trabalhadoras, nós estudantes filhos delas e nós estudantes-trabalhadores e outros sectores populares a pagar os efeitos das sucessivas crises: perdendo poder de compra, perdendo direitos sociais e laborais, e tendo cada vez menos garantia de apoio ao nosso estudo, formação, à saúde e ao emprego.
Agora estamos a assistir à explosão do neoliberalismo e dos seus dogmas: a obediência ao sacrossanto mercado, a pretensa supremacia da propriedade privada, os pretensos malefícios para a economia que seria a intervenção do Estado e dos poderes públicos.
Mas a crise virá ainda com mais violência nos próximos tempos, ela abandonará as esferas do jogo especulativo e fictício das bolsas e começará a provocar estragos à nossa volta, será mais desemprego e menos poder de compra, mais dificuldades do que aquelas que já temos.
Na universidade nos últimos anos aumentaram as propinas de forma brutal, aumentaram o preço das refeições nas cantinas, dos transportes, das fotocópias, das rendas, do gás, da água, da luz, das taxas para tudo e mais alguma coisa que nos cobram na UM, sempre acompanhadas com o discurso que estávamos em crise, que não havia dinheiro, que todos tinham de contribuir, que parte desses encargos seriam para aumentar a qualidade da universidade, que a privatização (via fundações) era o caminho. Estamos sugados até ao tutano e quando os especuladores, accionistas e outros usurpadores do dinheiro ficam sem ele devido à crónica falência do mercado de capitais, acontece o milagre!
AFINAL HÁ DINHEIRO, mas só para parasitários!
Agora utilizam os poderes estatais e os dinheiros públicos (de toda a população trabalhadora, desempregados, pensionistas, etc.) para salvar os lucros dos grandes accionistas dos bancos e seguradoras, e para estes senhores continuarem a sua 'brincadeira' de comprar e vender na bolsa. Desde a falência da Lehman Brothers, os governos dos EUA e da UE correram para serem eles (com o nosso dinheiro) a pagar os prejuízos de dezenas de bancos pelo mundo fora, enquanto o ‘filet mignon’(depósitos e agências) de alguns destes foi engordar os lucros de outros grupos.
Chegou a altura de nos questionarmos sobre a legitimidade da intervenção dos poderes públicos apenas se fazer quando se trata de salvar os lucros dos patrões, dos accionistas e do ‘bom funcionamento do mercado de capitais’! Então e quando se trata de termos acesso ao ensino público, de salvar o emprego, o nível de vida dos trabalhadores, os direitos sociais, a rede hospitalar pública e os cuidados de saúde, a dignidade das reformas, em resumo o bom funcionamento da vida em sociedade, os poderes públicos não devem ser chamados a intervir na economia?
O Governo PS/Sócrates acaba de disponibilizar 20 mil milhões de euros em garantias aos bancos, ou seja, os bancos portugueses vão emprestar dinheiro ou contrair empréstimos junto de outros bancos maiores e se algo correr mal, o que é o mais provável, não há problema! O Governo pega no nosso dinheiro, que afinal abunda, e simplesmente cobre as asneiras destes e do mercado. Ora toma!
Pela nossa parte dizemos, que basta de ‘nacionalizar’ prejuízos para salvar os lucros dos que têm feito fortunas à custa do sistema, é altura de exigir que paguem a crise com o dinheiro das fortunas pessoais que têm (e que trataram de salvar, separando-as juridicamente das empresas que agora estão falidas). É altura de reflectirmos e de pensarmos que os sectores estratégicos da economia (energia, sector financeiro, ensino e saúde) não podem mais estar sujeitos à sede de lucro dos seus donos. Para subordinar estes sectores às necessidades da população, para garantir os empregos e reforçar os serviços públicos é tempo de propor a nacionalização ou não privatização destes sectores, para que não continue a ser o povo a pagar a crise.
Está na hora de exigirmos a baixa do valor das propinas, do preço das refeições e o fim de múltiplas taxas da Universidade do Minho.
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